Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. João 1:16

A graça e a verdade são inseparáveis. Nós não podemos separar a graça da verdade e nem a verdade da graça. Não podemos ter uma sem a outra. Muitos rejeitam a graça e outros tolerariam a graça, mas, sem a verdade. Muitos estão dispostos a seguir o Senhor para tirar proveito da graça “da comida que perece”. Isto está muito evidente na reação das multidões e dos discípulos quando Jesus falou que Ele era o pão da vida, que Ele era a verdadeira comida; muitos murmuraram e outros ficaram ofendidos. Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?... À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. João 6:60 e 66.
           
Também podemos nos perguntar: Houve graça antes da vinda de Jesus? Absolutamente que sim. Como foi que Deus lidou com os nossos primeiros pais imediatamente após a queda? Lidou de acordo com a graça e a verdade. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Gênesis 3: Aqui está a lei da primeira menção, isto é, a primeira definição de graça: E o que é graça? É Deus descendo em busca do homem: “onde estás?” Vimos que Deus lidou graciosamente com o homem com a graça. E, onde está a verdade? Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Gênesis 3:21. Está aqui a verdade: “fez Deus vestimenta”. Deus lidou com os nossos primeiros pais com “a graça e a verdade”. 
           
De igual modo, Deus usou da “graça e da verdade” com o seu povo ao tirá-lo do Egito. A saída do seu povo do Egito era a graça em ação, pois não havia nenhum poder fora de Deus que pudesse libertá-lo. Aqui está a ampliação da definição da graça: Graça é Deus descendo e fazendo aquilo que o homem não tem condições de fazer. E a verdade?O cordeiro imolado: o sangue derramado, o sangue colocado nas ombreiras e na verga da porta. A justiça demanda a morte de um substituto inocente. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito. Êxodo 12:13. Mais uma vez encontramos “a graça e a verdade” atuando ao mesmo tempo.

Um pouco mais adiante, na história do povo de Israel, o salmista revela o sentimento de gratidão do povo pelo retorno do cativeiro da Babilônia. E profetisa, de forma maravilhosa, a descida Daquele que viria para estabelecer os dois fundamentos da salvação do homem, “graça e a verdade”.  Próxima está a sua salvação dos que o temem, para que a glória assista em nossa terra.Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.  Da terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar. Salmos 85:9-10-11.  Mesmo vivendo dentro do contexto da lei, o salmista vislumbra, isto é, ganha a revelação de Deus, da salvação do homem pela graça. Graça antes da verdade, mas nunca sem a verdade.

A graça revela a bondade de Deus para com os homens perdidos, e a verdade mostra que Deus é santo, e o homem é impuro.  A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo – não por Moisés. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. João 1:17. A verdade em Cristo mostra o que Deus é, e o que nós somos e, como inseparável da graça, revela que nada podemos fazer, mas traz tudo aquilo que precisamos.

A lei foi dada com especial propósito: revelar a nossa fraqueza e, como “retribuição” pela obediência, o conhecimento do pecado. Podemos estabelecer um contraste notável entre a lei e a graça: a lei mostrou o que há no homem: Pecado; a graça revelou o que Deus é: Amor. A lei requer justiça dos homens; a graça imputa justiça nos homens; A lei exige que o homem seja justo diante de Deus; A graça nos fala que Cristo é a nossa justiça. A lei sentencia a morte do homem que está vivo; a graça traz vida onde há morte. A verdadeira relação de todas as coisas com Deus nos foi revelada: o Verbo foi feito carne, vivendo entre nós, pleno de graça e de verdade, nosso Senhor Jesus Cristo. A graça e a verdade estão na Pessoa de Cristo.

Um contraste é extraído entre o que foi “dado” por Moisés, e o que “veio” por Jesus Cristo. A graça e a verdade não foram meramente “dadas”, elas “vieram” por Jesus Cristo em toda a plenitude da Sua gloriosa perfeição. O contraste aqui está em que Moisés apresentou a palavra de Deus em forma da lei, e Jesus era a própria palavra encarnada. Deus se manifestou através da lei, mas se fez conhecido através de Seu Filho.  A lei revelou a justiça de Deus, mas não mostrou a Sua graça. A lei era a verdade de Deus, mas não a totalidade da verdade sobre Deus. Pela lei vem o conhecimento do pecado, mas nunca lemos na Bíblia que pela lei vem o conhecimento de Deus.

Encontramos outro contraste da “graça e da verdade” pela revelação dada por Jesus do programa do diabo. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. João 8:44. Nesta passagem, o nosso Senhor, de uma maneira notável, definiu o diabo. O Senhor disse duas coisas a respeito dele: que é assassino e mentiroso. Satanás é a exata antítese da graça e da verdade. Em outras palavras, tudo o que Deus é, Satanás não é. Deus é graça. O diabo é assassino. Deus é a verdade, o diabo é um mentiroso. O diabo introduziu a morte, em contraste com a graça que trouxe vida; o diabo é mentiroso, em contraste com Jesus que é a verdade.

Na epístola de Paulo aos crentes de Roma, encontramos uma ampliação das palavras “graça e verdade” – “A graça reina através da justiça”.  A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Romanos 5:21. E, escrevendo para os crentes de Éfeso, o apóstolo fala da “justiça que procede da verdade”. E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Efésios 4:24. Mais uma vez, descobrimos que não podemos separar  a graça da verdade, e nem a verdade da graça, pois elas são inseparáveis. A verdade sem a graça é como um pavio de candeeiro aceso sem óleo: o que vemos é só a fumaça.

A graça “reina”, assim, a graça é comparada a um rei. Portanto, se a graça reina, ela tem que ser o único meio de salvação. “Porque pela graça sois salvo”. Sendo assim, a graça anuncia o desejo de Deus a todos os homens: o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. 1 Timóteo 2:4. Novamente vemos a graça e a verdade agindo na salvação e no conhecimento. A graça pode reinar sobre a maior indignidade. Na verdade, é só com o indigno que a graça se ocupa. Isso é maravilhoso! As Escrituras afirmam, claramente, que a razão pela qual Deus age em graça, é o louvor de Sua própria glória.

Quando Deus salva pecadores daquilo que eles merecem, Ele mostra a Sua misericórdia estupenda e graciosa. A graça de Deus se recusa a ser ajudada naquilo que ela tem que fazer. Não seria um insulto à soberania de Deus sugerir que Ele precisa de ajuda do pobre desempenho do homem? A graça é absolutamente livre de toda a nossa influência, caso contrário já não seria graça. “Graça significa favor imerecido ou favor dado sem que seja ganho por esforço algum”. Qualquer coisa merecida por direito não pode ser nossa por graça. Graça e mérito não podem estar ligados no mesmo ato. São realidades tão opostas como a luz e trevas. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. Romanos 11:6.

A graça e a verdade estão unidas na transformação da água em vinho nas bodas em Caná da Galiléia. A graça veio ao encontro do “nada”, pois tudo acabou, não há mais esperança, só nos resta o vazio, a alegria, simbolizada pelo “vinho”, se foi. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. João 2:3. E é neste ponto que a graça atua: na ausência de tudo. Quando todos os recursos humanos se esgotam, a graça se manifesta. Mas não se manifesta isolada da verdade, porém, junto. A graça atua na impossibilidade: “não têm mais vinho”. A verdade age para fazer do impossível uma realidade: Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. João 2:5.

Fazei tudo o que Ele vos disser, nada mais, nada menos do que isto, do nada para algo. Os serventes fizeram exatamente o que o nosso Senhor pediu: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. João 2:7. O resultado foi a transformação da água em vinho. A graça se manifestou quando tudo era vazio, e a verdade se manifestou a partir do vazio para trazer à existência aquilo que não existia. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho. João 2:9. Mais uma vez, vemos a graça e a verdade atuando junto.

Não podemos conceber a graça sem a verdade, e nem a verdade sem a graça. Ex. “Estou na graça”, logo posso fazer o que quero. O fato de “estar na graça”, não dá a ninguém o direito de fazer o que quer. É preciso investigar se aquilo que se deseja está fundamentado na verdade. Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. 1 Coríntios 10:23.

Pastor Humberto Xavier Rodrigues (http://www.palavradacruz.com.br/)